ANJOS PEREGRINOS
Mitologias antigas, presentes na tradição oral e escrita de muitos povos, nos dão conta de seres de natureza e origem angélicas, que falharam por se humanizar. E desde então se dividem entre a dedicação messiânica aos seus protegidos e a busca do caminho de volta à divindade. Tais mitos inspiraram o Artista, muito antes de chegarem no Brasil os filmes americanos que abordam este tema. Esta foi a segunda série de grande aceitação desenvolvida por Lou Poulit.
Veja uma Galeria de Anjos Peregrinos
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Nestas pinturas há quase sempre sempre uma figura única e central, que caminha serena e penitentemente na direção do observador. Sua aparência é esguia e elegante, entretanto, sua nudez não mostra sensualidade e representa desprendimento material, embora em algumas tradições não judaicocristãs a sensualidade não seja uma característica absurda ou condenável. Sua origem é, de modo para nós tradicional, simbolizada por asas grandes e protetoras. E sua quietude, por vezes em postura de vigília, sugere também a sua predisposição para nos ouvir ou perscrutar nossas inquietudes. Os Anjos Peregrinos são sempre configurados dentro dos limites pictóricos.
Os Anjos de Lou Poulit mostram menos detalhamentos do que os Nús femininos. Como é possível ver em outras séries, há também pouca definição de detalhes nos planos de fundo. E mais uma vez é relevante o tratamento dado à luz.
A tradição mais conhecida para nós, cristãos ocidentais, é oriunda dos anjos cabalísticos, textualmente definidos muito antes do nascimento de Jesus Cristo, e segundo esta tradição, os anjos são todos masculinos. Como resultado do enfrentamento entre grupos que disputavam a hegemonia na instituição religiosa, na época de Jesus os rabinos conhecedores dos mistérios cabalísticos estavam quase proscritos. No entanto, as características angélicas foram preservadas pelos primeiros seguidores de Cristo e, com algumas adaptações, também o foram depois, com a expansão do cristianismo pelo clero católico, embora estes tenham queimado todas as raras edições da Cabala que puderam encontrar.
Assim como o Pintor, estas pinturas não pretendem incentivar a que se discuta o sexo dos anjos. Apenas mostram sua própria abordagem, que novamente evidencia algumas características femininas (quietude, delicadeza e cabelos longos) sem propriamente definir a sua sexualidade.
Embora a figura do Anjo seja bela, sua presença é mais claramente notada pela percepção subjetiva de uma entidade superior, misteriosa e divina, disponível às pessoas predispostas a um relacionamento, ainda que eventual, com seres espirituais.

